Webinar MIBEL debateu processo de transição energética

11/12/2020

O webinar “O MIBEL no contexto europeu: a transição energética em perspetiva”, organizado, nos dias 9 e 10 de dezembro de 2020, pelo Conselho de Reguladores do MIBEL, cuja presidência é exercida pela ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos até ao final do ano, permitiu aos cerca de 300 participantes conhecer as perspetivas dos vários agentes relativamente ao processo de transição energética em curso.

Do ponto de vista da perspetiva das renováveis, o presidente da APREN, Pedro Amaral Jorge, sublinhou que as renováveis são responsáveis pela redução do preço médio de eletricidade no mercado grossista, mas face à desvantagem que quer Portugal quer Espanha enfrentam no financiamento dos projetos por via do risco percebido, face a outros países europeus, são necessários mecanismos de apoio regulados, nomeadamente contratos por diferença (CfD).

O presidente da GRANCEESS, Roger Pérez Domenech, associação que representa 3% do consumo de eletricidade em Espanha, apresentou a visão dos consumidores, sublinhando o seu papel pró-ativo na procura de energia limpa, a preços competitivos, com segurança de abastecimento e no âmbito de um quadro regulatório estável. Para isso, têm estado a alterar a forma como participam no mercado através da aposta em energias renováveis, na mobilidade elétrica, na eficiência energética, mas simultaneamente a procurar preços competitivos através da participação quer nos mecanismos tradicionais (compra a comercializadores) quer nos mercados organizados.

Quanto aos operadores de mercado, a presidente do OMIE, Carmen Becerril Martínez, afirmou que Portugal e Espanha têm condições para fornecer energia renovável ao resto da Europa, mas são necessárias interligações com França que permitam aproveitar todo o potencial existente. De acordo com esta responsável, com a entrada em funcionamento, em 2025, de uma nova interligação entre Espanha e França, a interligação entre a Península Ibérica e a restante Europa sobe para 5 000 MWh, sublinhando, no entanto, que só com 10 000 MWh se pode garantir o aproveitamento de toda a geração renovável da Península Ibérica.

A presidente do OMIE considerou que o mercado europeu de energia é central na transição energética e que a existência de um mercado único bem desenhado é tão importante como as interligações elétricas.

O encerramento do primeiro dia da conferência do MIBEL foi efetuado pelo administrador da CMVM, José Miguel Almeida, que referiu a transição energética como “um dos maiores desafios do nosso tempo” e a importância do papel do mercado de capitais nesse processo, através da capacidade que tem para gerar investimento e dar visibilidade a projetos que integrem a componente renovável.

Lembrou, a propósito, a consulta pública que está a decorrer, lançada pelo Conselho de Reguladores do MIBEL aos participantes do mercado grossista de eletricidade sobre eventuais medidas para melhorar a liquidez dos mercados a prazo do MIBEL.

No segundo dia do webinar MIBEL foi realçada a perspetiva dos agentes não tradicionais, através da intervenção de Natália Fabra, da Energy EcoLab, Universidade Carlos II de Madrid, e de Rui Henriques, responsável pelo Global Debt Financing Portugal do Banco Santander.

Natália Fabra abordou a importância conjunta da regulação e do financiamento na transição energética, com especial foco para os leilões das renováveis enquanto instrumento regulatório fundamental nesse processo, e alertou para a importância da regulação do armazenamento que vai permitir o equilíbrio entre a oferta e a procura num contexto de produção renovável.

De acordo com esta responsável e focando o sucesso do caso português, os leilões de renováveis permitiram obter preços de produção competitivos, selecionar o melhores projetos e tecnologias e facilitar a entrada no mercado de novos agentes.

Menos otimista em relação ao investimento por parte da banca em energia renovável, esteve Rui Henriques, do Banco Santander, que alertou para a fraca apetência que os investidores institucionais revelam atualmente por projetos com um nível de risco e de incerteza muito grandes.

Rui Henriques defendeu que, sem tarifas garantidas e com preços de mercado a rondar os 30 a 40 euros por MWh, muito dificilmente haverá interesse da banca para financiar massivamente os projetos renováveis, como aconteceu no início do milénio.

O responsável considerou que os preços que resultaram dos leilões das renováveis, são muito baixos, vendo como “muito difícil” o investimento da banca em projetos totalmente expostos a riscos de mercado.

O webinar MIBEL foi encerrado pela presidente da ERSE, Cristina Portugal, e presidente em exercício do CR MIBEL, que sublinhou a importância de todos os agentes se adaptarem ao enorme desafio que a transição energética coloca na busca de um novo funcionamento de mercado.

De acordo com Cristina Portugal, a transição energética é, “porventura o maior desafio que as nossas sociedades enfrentam na próxima década”, envolvendo produtores, consumidores e mercados financeiros.

A presidente do CR MIBEL anunciou que, em breve, será divulgado um estudo sobre o impacto da pandemia por COVID-19 no mercado ibérico, e relançou o Prémio MIBEL, cuja edição deste ano fica adiada, por decisão do Júri, devido ao insuficiente número e diversidade de candidaturas apresentadas.

A presidência do CR MIBEL será assumida no próximo ano pela CNMV, regulador de mercado de valores de Espanha.

Aceda às apresentações efetuadas pelos oradores:

Sessão I - A perspetiva dos agentes atuais

Sessão II - O olhar dos agentes não tradicionais

O webinar ficará ainda disponível no canal da ERSE no Youtube.